Posted by : Jolly E. Aug 24, 2025


— ‘Cê acha que ela vai ficar brava por a gente ter batalhado aqui em cima? — Hilda perguntou ao irmão enquanto eles desciam as escadas que levavam até a sala de estar.

— Se a gente não quebrou nada, tá safe... Acho.

Levando em conta quão animadamente dona Helga estava conversando com Bianca e Cheren, estava safe de fato. Hilda correu até a cozinha ao ver o bolo de Nanab que Bianca havia feito na mesa, se sentando de forma desengonçada na cadeira de jantar, onde sua bolsa de viagem estava pendurada. Hilbert decidiu pegar um pedaço também, já que não havia tomado café e seu estômago estava começando a reclamar.

 — Então você pegou o Snivy, Hilda? — Helga perguntou.

 Sua filha só fez que sim freneticamente com a cabeça, com a boca cheia de bolo.

— Olha, não nego que tô surpresa... Achei que você ia de Tepig. Não era você que queria um Snivy, Bibi?

— É que a carta da professora dizia que o Snivy tem um temperamento meio difícil... — A loira suspirou. — Achei melhor deixar ele com a Hil ou o Ren. Eles sabem o que tão fazendo mais do que eu.

— É, foi melhor assim. — Cheren concordou de imediato.

Hilbert deu uma cotovelada de leve no amigo, e recebeu uma franzida de testa confusa em resposta.

 — Você não devia se subestimar assim, sabia? — O moreno disse, antes de morder mais um pedaço de bolo. — Seria difícil, mas você daria conta.

— Você acha mesmo?

— Acho, de verdade.

— Talvez, mas acho melhor prevenir do que remediar — O garoto de óculos argumentou. — Se você não tem total segurança que conseguiria lidar com ele quando as coisas apertassem, foi melhor evitar mesmo.

— É, você tem razão... — Bianca apoiou o queixo na própria mão. — Ah, bem, não importa. Tô mais do que feliz com meu Oshawott! Qualquer um pra mim tava ótimo!

Hilbert só conseguia pensar que para uma garota que desesperadamente precisava de uma desculpa para sair de casa, realmente, qualquer Pokémon devia ser lucro... E talvez todo mundo estivesse pensando a mesma coisa, pois um silêncio um tanto quanto pesado pairou no ar.

 — Então... — Helga limpou a garganta. — Daqui vocês vão voltar pro laboratório? Ou vão sair direto?

— Vamo direto! — Hilda respondeu. — A professora não tá aqui, né, Ren?

— Não. Surgiu um compromisso repentino em Accumula e ela disse que estaria nos esperando lá.

— Ei, você não sabe mesmo o que a professora quer comigo? — Hilbert se lembrou de repente, se virando para encarar o amigo, ainda na esperança que ele soubesse de algo.

— Já falei que não sei do que se trata, ela deve dar os detalhes quando nos encontrar. — Cheren suspirou. — Mas, se bem me lembro, ela quer que você faça um favor pra ela lá em Striaton.

Hilbert bufou em protesto. Striaton? Isso dava um dia inteiro de caminhada, e isso se você não desse nenhuma parada para descansar! E ele achando que iria voltar a dormir quando voltasse de Accumula... Mas seria grosseria recusar um favor da professora Juniper depois de tudo que ela fez pela família. Não lhe restava muita escolha senão aceitar.

— Tá, que seja. Mas alguém vai ter que me trazer de volta pra Nuvema, já que eu não tenho Pokémon.

— Eu te trago de volta. — Hilda se ofereceu prontamente, largando seu prato agora vazio em cima do balcão.

— Vai ser um vai-e-volta danado, você sabe, né?

— Tô ligada. Mas tranquilo, não tô com pressa, os Ginásios não vão pra lugar nenhum.

Enquanto isso, Helga tirou uma Poké Ball preta e amarela do seu bolso, uma Ultra Ball, e a abriu. Dela, saiu um Pokémon morcego azul, peludo e com o nariz em formato de coração, bocejando. Ele tinha um Soothe Bell pendurado no pescoço — com o pêndulo do sininho retirado, pois o barulho incomoda demais suas orelhas sensíveis —. Mesmo que tenha sido um Pokémon doméstico por quase toda sua vida, Swoobat ainda era um Pokémon com hábitos noturnos. Mas não o suficiente para não ficar empolgado ao perceber que era hora do café da manhã! Ele imediatamente voou baixo até os pés de sua treinadora, pulando no chão com suas perninhas curtinhas.

— Já que a gente vai pra mais longe... — Hilbert suspirou. — Vou pegar minha bolsa de remédios.

— Boa ideia. — Helga disse casualmente enquanto pegava a caixa de comida de Swoobat de dentro de um dos armários.

Quando o garoto se levantou para ir até o seu quarto, Cheren e Bianca fizeram o mesmo.

— Preciso passar em casa antes. Dar tchau pros meus pais e tudo. Você vai voltar também, Bianca?

— Hã, não. Já dei tchau pra mamãe...

 Ninguém se atreveu a mencionar o pai dela.

— A gente se vê na entrada da Rota 1, então? — Cheren sugeriu.

Hilda fez que sim com a cabeça, e Hilbert deu um joinha, subindo as escadas sem muito entusiasmo.

— Aproveita que você vai aí pra cima e arruma sua cama! — Helga gritou para o filho mais novo, finalmente servindo o prato do Swoobat que estava começando a guinchar.

— Tá!

— Tia, você pode devolver o pote da minha mãe pra mim, por favor? — a garota loira pediu.

O dito cujo agora estava vazio após os irmãos — principalmente Hilda — terem devorado o que havia sobrado nele.

— Claro, querida. Pode ir tranquila.

Depois de se despedirem da Sra. Park, Cheren e Bianca saíram. E com Hilbert estando no andar de cima, só sobraram mãe e filha na cozinha. Hilda aproveitou a oportunidade pra falar baixinho:

— Colocasse as coisa dele na minha bolsa?

— Uhum. — Helga sorriu. — Só ficou meio pesado, cuidado.

— Nah, tá de boa, consigo levantar. ‘Cê acha que ele vai topar?

— É bem a cara dele ficar interessado numa pesquisa assim... Então, acho que sim. Espero que sim, pelo menos. Vai fazer bem pra ele...

As duas ficaram em silêncio por alguns poucos instantes, a quietude interrompida apenas pelos barulhos de mastigação do Swoobat. Algo sobre a paz daquele momento fez a garganta de Hilda apertar pela primeira vez desde que o dia havia começado.

— Então... Chegou a hora mesmo, né? — A garota falou mais pra si mesma do que para sua mãe.

Helga se aproximou e colocou a mão na cabeça da filha. Ela esperava que fosse ter seus cabelos bagunçados, como sempre acontecia, mas desta vez não. A mão dela só continuou ali, parada.

— É, chegou a hora. — Helga concordou.

 Mais momentos de silêncio. Depois de um ou dois minutos que pareceram uma eternidade, Hilda foi a primeira a ceder, e puxou sua mãe para um abraço, ainda estando sentada na cadeira. Ela retribuiu quase que imediatamente, dando um beijo no topo da cabeça de Hilda. Helga poderia ter falado um milhão de coisas, e talvez não fosse o suficiente para fazer jus àquele momento. Então, ela simplesmente disse:

 — Você consegue. Eu sei que consegue.

 Hilda considerou perguntar o que ela conseguiria em específico, se ela se referia aos Ginásios ou alguma outra coisa. Mas não importava. Seja lá o que fosse, sua mãe, que sacrificou tanta coisa por ela e não reclamou um dia sequer, acreditava que ela iria conseguir, e isso já bastava... E ela tinha medo de acabar chorando se tentasse falar algo a mais. Swoobat, que havia acabado de comer, subiu no ombro de Helga, tentando confortá-la.
 
No andar de cima, Hilbert arrumava a sua cama, e por algum motivo, havia um sentimento estranho em seu peito... Bom, não por algum motivo. Era o fato que ele não teria mais a irmã ali. Não haveria ninguém dormindo no beliche de cima, nem ninguém pra dividir o guarda-roupa ou brigar pela cor das paredes do quarto. Não fazia muito sentido ter uma nostalgia tão grande por esse quarto, nem por Nuvema, mas a quantidade de anos que havia passado sem conhecer Hilda e Helga parecia tão insignificante comparado aos anos ao lado delas...

Ele preferiu não pensar muito sobre suas emoções, como de costume, e só pegou sua bolsinha de remédios em formato de Audino e a colocou dentro da bolsa maior. Era bom levar sua garrafa d’água também, mas ela não estava ali... Acabou que ele só desistiu de procurar, e desceu as escadas em direção a sala. Ele abriu a boca para dizer algo à mãe e à irmã, mas freou ainda na metade dos degraus quando percebeu que estava interrompendo algo.

 — Hilbert, vem cá. — pediu Helga, bem no momento em que ele estava considerando voltar para o quarto.

 Ele chegou perto de forma hesitante, sem dizer uma única palavra. E também sem dizer nada, a mãe o puxou pelo braço para se juntar ao abraço. Assim como tinha feito com sua irmã, ela lhe deu um beijo na cabeça.

— Toma cuidado, tá?

— Mãe, você sabe que eu vou voltar, né? — Hilbert deu uma risadinha.

— Eu sei.

A voz de Helga estava tão trêmula de emoção, que o sorriso de Hilbert passou de exasperado para emocionado em questão de segundos. O seu Xtransceiver vibrou no seu pulso com a mensagem de alguém, mas ele não deu atenção. Demorou um minuto ou dois para os três se separarem, todos com os olhos marejados.

— Pensa pelo lado bom, pelo menos a senhora e o papai vão conseguir aproveitar o aniversário de dez anos de namoro de vocês sem ter a Hilda por perto pra atrapalhar — brincou o menino.

— Ei!

— Seu pai que me perdoe, mas... Eu preferia muito mais ter vocês dois aqui. — Mesmo dizendo isso, Helga sorriu. Mas pigarreou para afastar as lágrimas logo em seguida, voltando a pose de durona. — Ok, vão logo, antes que eu mude de ideia. Xô.

— Tchau, Swoobat. — Hilda fez um longo carinho no morcego, fungando. Ele parecia em paz com o fato que eles estavam indo embora. — Logo, logo eu volto. Dá tchau pro Basculin pela gente também, mãe!

Helga acompanhou os filhos até a porta. Toda e qualquer recomendação já havia sido dada na noite anterior, quando ela estava ajudando Hilda a fazer a mochila. Não havia muito mais a se dizer.

— Juízo, hein? — Ela disse, com carinho na voz. — Mandem mensagem quando chegarem em Accumula. Amo vocês.

Os dois se viraram e falaram em uníssono:

 — Te amo também!

E assim eles seguiram o mesmo caminho que haviam feito pela manhã, exceto que ao final seguiriam para o nordeste da cidade, rumo à Rota 1. Ambos percorreram uma parte do trajeto em relativo silêncio. Hilda estava com um sorriso de ponta a ponta da boca, quase pulando enquanto andava. Hilbert pensava em como seria uma caminhada chata até Accumula. Pelo menos o sol da primavera não era escaldante e o caminho era curto.

Ele decidiu checar as mensagens do seu Xtransceiver. Havia duas, uma de Cheren e outra de Bianca.

 

Ele respondeu ambos de forma breve e mostrou as mensagens a Hilda, que deu um longo suspiro.

— Dona Dragomira deve ‘tar irritadaça... Lá vai o irmão dela aprontando de novo. O que ele fez agora?

— Quando a gente chegar no Centro de Accumula, a gente descobre, só olhar na TV. Seja lá o que for, o jornal já deve estar sabendo.

— E o seu Rossi? Essa praga não ia pra uma reunião de negócios? O que ele tá fazendo aqui?

— Se ele perguntar pela Bianca, a gente diz que não viu ela.

— É uma boa. Eu pensei em sair correndo mesmo.

— É uma opção também — ele deu de ombros.

 Após mais alguns minutos de caminhada silenciosa — por sorte, sem esbarrar no pai de Bianca —, os irmãos chegaram a Rota 1, logo após passarem do grande portão que separava o condomínio fechado que era Nuvema do resto do mundo. As longas fileiras de flores nas laterais da rota estavam começando a florescer, e muito em breve, pétalas cor-de-rosa iriam tomar conta do canteiro. Não era o caso agora, já que o inverno tinha acabado de terminar, muito para o alívio de Hilbert. Menos pólen significava menos chances de uma crise de espirros. Fora o campo de flores e a vista para o mar à esquerda, não havia nada mais de muito impressionante naquela rota. Era uma mera estrada curtinha perto da costa, ligando as duas cidadezinhas de Nuvema e Accumula.


Havia uma coisa um pouquinho — ênfase no pouquinho — impressionante sobre essa estrada de terra, na verdade: Aquela era a rota conhecida por ter a maior concentração de ninhos de Patrat da região. Os pequenos roedores geralmente não eram agressivos, mas um passo em falso, e seu pé podia cair com tudo em um túnel feito por eles, e aí sim eles se tornavam um perigo.

Hilda respirou fundo a brisa salgada, e segurou a mão do irmão, que franziu a testa.

  Que foi?

  Bom... Eu e a Bibi combinamos de todos nós darmos o primeiro passo na Rota 1 juntos. Mas nem ela nem o Ren estão aqui, então... Bora?

Ele sentiu a necessidade de lembrar que tecnicamente, ele não era parte dessa jornada... Mas seria chato cortar o barato dela quando ela parecia tão feliz.

— Ah, por que não? —  Ele suspirou.

— No três! Um, dois...

Três. Eles caminharam lado a lado com passos sincronizados por alguns momentos, também em silêncio, assim como tinha sido o caminho por Nuvema. Foi um começo de jornada surpreendentemente quieto, mais quieto do que qualquer um dos dois esperava. O que não era algo ruim. Só diferente.

E falando em algo ruim... Hilbert agarrou o pulso da irmã quando ela ia dar o próximo passo à frente, lhe dando um susto.

 Espera!

— Que foi?!

— O que você vai fazer se aparecer um Pokémon selvagem? Seu Snivy não tá desmaiado?

Silêncio. Hilda pôs a mão no queixo.

— Vish...

Como que você esquece disso?!

— Tu também não lembrou!

— De quem é esse Pokémon? É meu ou teu?! — Hilbert massageou as têmporas, incrédulo. — Só vamos pra casa do Cheren, os pais dele tem aquelas máquinas-

— Precisa não, pô! É só a gente seguir reto e desviar do que a gente encontrar no caminho!

— Quê?! Sabe quais são as chances disso dar errado?! Correr não vai adiantar se um Patrat quiser te dar uma mordida na bunda!

— Como assim, cara?! Olha o tamanho das patinhas desses bicho e olha o tamanho das nossas pernas! — Hilda usou as mãos para apontar para seus próprios pés.

— É, porque a última vez que a gente saiu por aí sem ter nenhum Pokémon deu super certo... — Hilbert bufou. — Não dá pra saber o que vai aconte-

— Ah, vai ficar tudo bem!

 E tendo dito isso, ela seguiu caminhando a passos largos na frente. Não tendo muita escolha, Hilbert foi atrás dela, suspirando de frustração e olhando para todos os lados.

— Tem muita gente de Nuvema que trabalha em Accumula, passa por essa rota todos os dias e nunca acontece nada! — Hilda tentou argumentar. — Por que com a gente seria diferente?

Como se fosse pra provar o ponto da garota, uma picape velha passou ao lado das crianças, que foram pro canto da estrada pra desviar.

— Porque essas pessoas têm Pokémon! Elas tem uma forma de se defender!

— Uau, nossa, pra se defender de Patrats e Lillipups. Perigoso demais. Vamo precisar de um Haxorus pra se proteger deles!

— Hilda, você tem que parar de subestimar os Pokémon. Qualquer Pokémon pode ser perigoso se ele se sentir ameaçado. Eles podem ser e provavelmente são mais fortes que um ser humano.

— Com certeza são mais fortes que tu, que não se garante nem na corrida, nem na porrada. Se um Audino quisesse te pegar, certeza que ele conseguiria!

Hilbert pegou ar para dizer algo, mas fechou a boca na metade do caminho, e logo depois suspirou e cruzou os braços.

— Ok, você tem um ponto. Mas esse não é o pont-

— ‘Cê sabe que os Patrats tão sempre atentos a tudo, né? Se eles achassem a gente uma ameaça, já teriam visto a gente e já teriam atacado. Se eles não tivessem acostumados com humanos, se pá até iriam atacar do nada, mas eles vêem gente nessa rota todo santo dia!

E mais uma vez, ele abriu a boca para falar alguma coisa. E, mais uma vez, Hilbert não tinha o que dizer. Ele sentiu as pontas das orelhas arderem. Ele disse a ela para não subestimar os Pokémon, mas ele próprio a estava subestimando...

— É... Faz sentido. — O garoto abaixou um pouco a aba do boné que havia pegado da irmã. — Se a gente ficar no caminho, deve ficar tudo bem.

— Ei, não foi pra lá que rolou aquela briga?

Hilda apontou para esquerda, para o mar. Mar este que era a única coisa que eles conseguiam ver além da floresta que era próxima a Nuvema. Se tivesse algum sinal da confusão, estava além de onde a vista alcançava.


— O que é que tem pra lá mesmo? — questionou ela.

— Mais floresta, mais mar, e depois... Uma ilha, acho? Parece que ela nem conta como Unova mais, tá além da fronteira da região. Literalmente uma terra de ninguém.

— Ah.

Os irmãos pararam por um momento, ainda encarando o barulhento oceano e a praia cinzenta a frente deles. Uma visão familiar, assim como era para todos os que moravam em Nuvema. A brisa salgada está permanentemente cravada no cérebro dos habitantes, assim como o cheiro das flores daquela rota. Era sempre a mesma coisa nessa parte isolada de Unova.

— Não gosto desse lugar. — concluiu Hilbert

— Por quê? É mó bonito.

— É tudo muito quieto. Não parece que algo vai sair da água a qualquer momento e te engolir?

— Não? — Ela riu. — ‘Cê é paranóico demais. Vamo embora, daqui a pouco a gente chega na ladeira!

Pelo que parecia a trigésima vez naquela manhã, Hilda saiu na frente, e Hilbert resmungou antes de segui-la.

Odeio essa ladeira. Como que os véio sobem esse inferno todo dia? —

Infelizmente, era necessário passar por ela, já que Accumula era o ponto mais alto do quieto sudeste de Unova.

— Aaaaaah, não é nem tão alta assim, só é meio longa! Ninguém escala a Twist Mountain com esse pensamento!

— Ainda bem que eu não vou escalar montanha nenhuma!

Hilda olhou pra trás para encarar o irmão com um sorrisinho maldoso no rosto.

— Ok, vou acreditar em você.

Ele sabia exatamente o que ela estava pensando, mas decidiu guardar fôlego, preferindo apenas olhar feio para Hilda. Que, por sinal, subia a faixa mais alta de terra sem a menor dificuldade graças ao seu porte atlético. O que, na opinião de Hilbert, era uma das coisas mais irritantes sobre ela. Pessoas que são boas em Educação Física são privilegiadas sim, e nada tiraria isso da cabeça dele.

Em questão de — longos, longos — minutos, Hilda chegou ao topo da ladeira enquanto seu irmão se arrastava sem muita vontade, já com a respiração ofegante e com o rosto vermelho. Quando finalmente chegou ao topo, ele se abaixou de leve, colocando as mãos no joelho e respirando fundo.

— Credo, que drama. Uma vida pra subir uma ladeirinha!

Hilbert só lhe deu o dedo do meio como resposta, e desviou a mão quando Hilda tentou mordê-la.

— Sai, porra!

— Ow, uma pergunta: ‘Cê contou pra tua mãe onde 'cê tá indo? 

 A expressão do garoto azedou ainda mais, se é que isso ainda era possível.

 — Por quê tá perguntando isso do nada?

— Curiosidade. 'Cê falou que parece que ela tá tentando ficar mais presente.

— Quando a gente parar no Centro de Accumula eu mando mensagem... — Ele revirou os olhos e se endireitou. — Ou nem isso também. Não devo nada da minha vida pra aquela mulher. E ela tava tentando. Ano passado. Esse ano parece que ela voltou a desistir.

— Faz quanto tempo que ela não te manda mensagem?

— Desde o Ano Novo. Ela claramente não tá nem aí, pra quê eu vou me dar ao trabalho de ficar indo atrás?

— É, jus-

Ai! Guinchou uma voz feminina do outro lado da rota.

Os irmãos viraram o rosto na direção do grito e se depararam com uma familiar garota loira caída com a cara no chão... Mas erguendo uma Poké Ball no ar de forma triunfante.

— Ê, Bianca... — Hilbert suspirou, com um ar de riso.

E juntos, os dois irmãos caminharam até ela com a intenção de descobrir o que tinha levado a amiga a comer terra.

              


 

{ 8 comments... read them below or Comment }

  1. Acho que já devo ter comentado diversas vezes sobre diálogos, maaas, eu adoro diálogos, e tu trabalha eles muito bem. Eu consigo imaginar perfeitamente os personagens conversando.

    Finalmente estamos aqui, na rota 1, o primeiro passo dos irmãos. Hilda é corajosa querer ir sem Pokémon, mas de fato, é bem perto se tu for olhar pela perspectiva dos jogos.

    Complicada a situação de Hilbert e sua mãe, infelizmente, mas gostei de tu ter mencionado ela aqui. Também temos Bianca e sua situação com seu pai. Aaah, eu morria de raiva em BW.

    A quase mordida no dedo também foi muito bom kkkkk
    Agora esperar para vermos como será o desenrolar e descobrir o motivo da bibi estar nessa situação.
    Parabéns Jolly, até a próxima!

    ReplyDelete
    Replies
    1. Dnv, fico feliz demais de ouvir isso, porque os diálogos realmente são minha parte favorita de se escrever em qqlr história, mas principalmente em AeU <3

      É, problemas com a família tão comendo solto com o nosso grupo de protagonistas kkkkkkkkkkrying... Vamo ver se isso se resolve...

      E OBG, AMEI FAZER A CENA DA MORDIDA NO DEDO KKKKKKKKKKKKK

      Delete
  2. Finalmente começamos a jornada em si! Achei fofo que você repetiu o que acontece nos jogos de darem o primeiro passo juntos, mas dessa vez com o Hilbert.

    Mas estou me adiantando. Teve bastante coisa antes disso. Achei muito legal as pequenas pistas de que Helga está planejando algo junto com Hilda para Hilbert, e que por mais que seja na nossa cara, o tapado não percebeu ainda! Kkkkkkkkk

    E mais uma vez AeU me conquista cada vez mais mais pelo carisma dos personagens! O capítulo não teve ação nenhuma, mas existe algo precioso em ler como cada um desses personagens reagem a cada situação. A discussão dos irmãos sobre atravessar a Rota 1 com um Pokémon desmaiado é um ótimo exemplo de como AeU faz isso de maneira primorosa! Mal posso esperar para ver mais situações cotidianas, e como eles vão reagir quando a ação de verdade bater na porta!

    Até a próxima!

    ReplyDelete
    Replies
    1. Nossa, adoro essa cena deles dando o primeiro passo juntos, me arranca um sorriso toda vez. Fiz questão de trazer isso a tona <3 E SIM, Hilbert é inteligente pra umas coisas, mas mto leso pra outras KKKKKKKKKKKK Vamo ver qual que é esse plano >:]

      Sinto que falo isso em todo comentário, mas fico MTO feliz de ler que vc (todo mundo tbm!) tá achando os personagens carismáticos! Esse capítulo 3 é o que eu tava mais incerta dessa Wave 1 pq meio que não acontece muita coisa, então eu só cruzei os dedos pras interações com os personagens carregarem ele (até por serem minha coisa favorita de se escrever na vida), e aparentemente deu certo! <3 Agradeço dms que tenha curtido!

      Até a próxima (que é justamente hj quando tô respondendo esse comentário hauhahuhah), meu querido <3

      Delete
  3. Eu acho que entendo o Hilbert perfeitamente. O cara só quer ficar em casa tranquilo e sem aborrecimento, e o mundo inteiro faz questão de conspirar pra arrastá-lo pro olho do furacão. Bem-vindo, Hilbert, ao clube dos que estão fadados a viver uma vida inteira contrariados.

    Você quebrou completamente as minhas expectativas quando os fez saírem em momentos distintos. Aquela cena dos jogos deles dando o primeiro passo juntos é tão icônica que eu já tava contanto com ela aqui. Mas por outro lado, acho que também teve um significado sendo só a Hilda e o Hilbert. É como se fosse um aviso de que durante essa jornada, no fim das contas são os dois juntos antes de tudo, já que o Cheren e a Bianca não estarão por perto sempre.

    Mas a Bianca ainda fez o favor de voltar à cena, e caindo de cara no chão. Tomara que não tenha batido a cabeça kkkkkkk

    Até a próxima! õ/

    ReplyDelete
    Replies
    1. O Hibi só quer ficar de boa... Jogar Legend of Zacian: Breath of Zarude na paz do quarto dele... Mas não, meu lindo, vc nasceu protagonista, agr vai ter que ser HUAUHAUUAHUAHUHA

      Exato, eu cogitei manter fiel aos jogos, mas acho que serem eles dois tem um outro significado que vai ficar mais claro a medida que a história anda! >:] Bianca se esborrachou toda, coitada huahuahuhauhuahu

      Mto obg pelo carinho! <3

      Delete

- Copyright © 2019-2020 Aventuras em Unova - Escrito por Jolly - Powered by Blogger - Designed by CanasOminous -