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- Capítulo 4 - Semente Enterrada
Posted by : Jolly E.
Aug 31, 2025
— Eu consegui! — exclamou Bianca alegremente enquanto se levantava do
chão. Nessa altura, ela já estava acostumada a comer poeira.
— Conseguiu o quê? — Perguntou Hilda.
— Um Lillipup!
— Ué, e onde foi que você conseguiu Poké Ball?
— Eu... — Ela mordeu o lábio inferior, seu sorriso morrendo um pouco. — Comprei.
Com minha mesada. Escondida. Há uns dias.
Fazia sentido. Os pais dela jamais teriam comprado quaisquer itens de
jornada para ela. O que levantava a pergunta...
— Bianca, desculpa perguntar, mas... — Hilbert interrompeu a conversa. — Qual... Qual é seu plano? Se seu pai achar
que você fugiu de casa, foi sequestrada ou algo assim... É só uma questão de
tempo até ele mandar a polícia atrás de você.
O clima pesou quase que imediatamente. Até o sol do fim da manhã que
estava conseguindo penetrar pelas nuvens pesadas parecia ter perdido força,
sendo dominado por uma brisa gelada. Hilbert se arrependeu de ter perguntado,
mas assim que ele abriu a boca pra pedir desculpas, Bianca lhe deu uma
resposta:
— Pedi pra professora Juniper falar com ele. Ele não vai poder ter raiva
dela... E a mãe do Ren prometeu que ia me acobertar também se fosse necessário.
Eu achei que ele ia pra aquela viagem de negócios hoje, mas acabou que mudaram
a agenda dele... — ela suspirou, frustrada. — Meu plano é estar o mais longe
possível de Nuvema quando ele descobrir. Quero chegar em Striaton antes de
escurecer.
— Striaton? — o garoto repetiu, franzindo a testa em preocupação. — A Rota 2 é muito mais longa que a Rota 1.
Você vai ter que praticamente correr
pra chegar antes de escurecer
— Eu sei. Mas quero ter certeza que eu tô se- — ela se interrompeu. — Só
não quero dar brecha pra ele me alcançar.
— Ele não vai. — Hilda colocou a mão no ombro da amiga. — E mesmo se
alcançasse, eu não ia deixar ele te levar de volta!
Bianca ficou um pouco corada, mas sorriu de leve.
— Eu também não ia ficar parado! — acrescentou Hilbert.
— Ah, é? E ‘cê ia fazer o quê? — provocou a irmã.
— Ei, eu posso até não conseguir encher ele de porrada que nem você, mas
consigo assassinar ele com palavras!
— Brigada, gente. De verdade — disse Bianca baixinho, ainda sorrindo
envergonhada. — Mas também, vou ter alguém pra me proteger no caminho...
— Oxe, quem-
— Bom, é melhor a gente ir andando! A professora tá esperando,
não tá? — Ela interrompeu, ficando ainda mais vermelha. —
— É. E eu ainda quero saber o que ela quer comigo.
— Mas, Hilda, você não vai capturar nada por aqui?
— Ah... Então... Nem se eu quisesse. — Ela coçou a cabeça, sem graça. — Não
curei o Snivy ainda. Esqueci.
— Ah, não seja por isso!
A loira puxou uma garrafinha do interior de sua bolsa. Parecia com uma
poção de cura normal, mas o líquido dentro era de um tom feio de verde.
— Além de comprar Poké Balls escondida com minha mesada... Eu também
rou-digo, peguei emprestado algumas berries e ervas, e fiz poções caseiras
pra mim! — Ela estufou o peito, orgulhosa. — Ren disse que é perigoso ficar
misturando essas coisas, mas eu sei o que tô fazendo, juro!
— Eita! E isso aí é o quê? — Hilda segurou a garrafinha, colocando ela mais
próximo da cara para tentar enxergar seu conteúdo.
— Heal Powder e Figy Berry!
A berry é
pra tirar um pouco do gosto amargo, já que poções baseadas em ervas são feitas
pra beber. Mas não sei se seu Snivy vai gostar...
— Só tem um jeito de saber!
A morena libertou sua cobrinha da Poké Ball, e ele saiu dela na mesma
posição em que havia entrado: Deitado no chão, com uma expressão azeda e
cansada.
— O que é que essa baranga quer
agora? — Emerald suspirou pra si mesmo.
— ’Tó! Pra te curar!
O humor dele pareceu melhorar quando ela lhe ofereceu a garrafinha pra
beber.
— Hm. — Ele deu uma cheirada. —
Isso é Figy, não é? Hmph, outros podem
não saber diferenciar, mas eu sei.
Puramente picante, uma delícia. Vem de uma arvorezinha roxa com folhas venenosas.
Hilda tomou um susto quando Emerald usou suas vinhas pra tomar a bebida
da mão dela sem muita cerimônia, jogando o recipiente no chão depois que bebeu
tudo. Bianca o pegou e o colocou de volta na sua bolsa, dando um aceno de
cabeça satisfeito.
— Acho que funcionou!
— Funcionou o suficiente, apesar
de estar mais amargo do que estou acostumado. Talvez eu devesse ter tido você como treinadora — Comentou, olhando para
Bianca.
— Boa, Bibi! Valeuzão mesmo! — Hilda sorriu. — O jardim da dona Silvana
é cheio das coisas mesmo, hein?
— Uhum, ela tem umas raridades! É difícil algumas berries passarem na
vistoria do aeroporto, você sabe como é Unova, mas tem horas que ela consegue
umas sementes interessantes!
Hilbert virou a cabeça na direção de onde eles vieram, encarando o campo
de flores lá embaixo na base da ladeira que eles haviam subido, entediado com a
conversa. Se tinha algo que não lhe interessava, era a natureza. Ele estava
mais interessado era em saber que horas ele poderia voltar pra casa... E
provavelmente não seria ainda hoje, já que demorava um dia inteiro para caminhar
de Nuvema a Striaton. A ideia de ter que parar num Centro Pokémon para dormir o
irritava. Mas, bem, a professora sempre pagava bem quando ela o usava como
menino de entrega. Ele podia fazer algo legal com a grana. De repente, até comprar
algum jogo, como aquele “The Legend of Zacian” novo que ele estava de olho.
— Ô, vamo andando — ele disse às meninas, dando alguns passos à frente. —
Quanto mais rápido a gente chegar em Accumula, mais rápido a gente chega em
Striaton.
— Verdade, vambora!
— Ah, antes disso, vou deixar o Oshawott tomar um ar fresco! Eu ia curar
meu Lillipup, mas... Já que a gente tá tão perto de Accumula, prefiro
economizar minhas poções e usar o Centro!
Bianca libertou seu Pokémon também que pareceu empolgado de ter sido
solto. Mas, assim que percebeu que o Snivy estava junto, fez uma careta.
— Argh, você ainda tá por aqui?
— Infelizmente, nossas treinadoras
são amigas, então creio que nos veremos com frequência... Garanto que a ideia
me desagrada tanto quanto desagrada a você.
Tendo dito isso, Emerald pulou no ombro de Hilda, que tomou um susto,
mas conseguiu não derrubar seu Snivy. Ele se enrolou no pescoço dela, deixando
a cauda pendurada no seu outro ombro.
— O mínimo que você pode fazer por
mim depois da derrota humilhante que você me fez passar, é me carregar. E me
manter longe desse tonto. — Ele encarou Azure de forma debochada.
— Awwww, que bonitinho! Acho que ele tá começando a gostar de mim!
— Se quiser interpretar dessa
forma...
— Quando você ganha, é mérito seu,
mas quando você perde, é culpa da sua mestra? — Azure reclamou enquanto
Bianca o carregava nos braços e lhe dava um beijinho no topo da cabeça.
— Exatamente.
— Você é insuportável...
Accumula não estava muito distante, só mais alguns minutos de caminhada
pela estrada de terra, passando por alguns campos de flores — o que fez Hilbert
dar uns bons espirros — para desviar dos poucos carros que passavam por ali.
Carros velhos, estrada velha e mal cuidada. Típico dessa área da região. Muita
gente brinca que a civilização só começava depois de Striaton. Talvez seja por
isso que dona Helga escolheu morar na “gaiola com vista pra praia”, como dizia
Hilbert. Mas não dá para dizer que ele sentia falta do apartamento minúsculo em
Castelia que ele morava quando era mais novo... Nem da solidão daquela época.
Qualquer coisa era melhor que a Narrow Street. Bom, quase qualquer coisa. Ele não sentia saudades de Eterna. Muito
menos de Floaroma... Urgh. Inferno de polén.
Depois de alguns minutos das meninas conversando, os Pokémon delas se
encarando feio e Hilbert divagando, o trio finalmente chegou na cidadezinha. A
entrada da cidade já era mais memorável que Nuvema e seu mar de casas de
família, com um parque que se estendia por algumas ruas — muitas delas,
ladeiras — lhe dando boas vindas, o Slither Park. Estava um pouco vazio, pois
sendo um dia de semana, era mais frequentado por um idoso ou outro fazendo sua
caminhada matinal. As crianças já estavam na escola e os adultos estavam
trabalhando. Mais um dia normal na cidade do sobe-e-desce.
— Ah, já vim aqui antes.
Lugarzinho agradável. — Emerald
disse pra si mesmo.
— Quando você fugiu do laboratório?
— Azure resmungou apenas pra ser ignorado.
— Ai, eu adoro Accumula! — Bianca suspirou. — Mas... Bem que o clima
podia estar melhor, né? Não é muito o céu de começo de jornada.
Os três olharam pra cima, e as nuvens cinzentas pareciam se acumular
ainda mais no céu. Que primavera feia.
— Será que vai chover? — Hilbert franziu a testa, preocupado.
— Ah, se chover, a gente compra um guarda-chuva no Centro! Falando
nisso... Em qual deles a professora ficou de encontrar a gente, Bibi?
— Naquele ali!
Bianca apontou pro prédio de telhado vermelho logo à direita da saída do
Slither Park. O Centro Pokémon de Accumula não era tão grande. Não havia uma
lanchonete ou muitos quartos pra treinadores ficarem, afinal, ninguém passava
muito tempo por ali. Mas era um Centro funcional. O trio sentou-se no chão, próximo
da entrada, esperando a professora chegar.
E seguiram esperando por muito tempo. Por quase uma hora.
— Ela não mandou mensagem? — Hilbert perguntou pela trigésima vez nos
últimos cinquenta minutos.
— Não... — Bianca suspirou, fazendo carinho no seu Oshawott que estava
cochilando no seu colo.
— Uuuurgh, quero ir logooooo! — Hilda dramaticamente jogou a cabeça pra
trás. — Cadê ela?!
— Eu também quero ir embora... Não posso ficar aqui por muito tempo. — A
menina loira sussurrou, ansiosa.
— Ei! — Chamou uma voz a
distância.
Os três levantaram a cabeça, mas, pra decepção deles, era Cheren que se
aproximava, esbaforido.
— E aí, o que rolou com teu tio? — Hilda perguntou.
— Tava brincando nos cassinos outra vez... — Cheren respirou fundo antes
de continuar. — Na Black City.
— Nada de novo sob o sol. — Hilbert riu baixinho. — A gente tá esperando
a professora, mas até agora nada dela.
— Ah... — O garoto de óculos sorriu. — Sobre isso... Encontrei uma certa
pessoa enquanto corria pra cá.
Ele apontou com a cabeça pra trás, e os três ergueram as cabeças pra
olhar. Dito e feito, lá vinha a professora logo atrás, segurando uma caixa relativamente
pequena. Assim como Cheren, ela também estava ofegante.
— Mil desculpas pela demora... Tive que responder algumas perguntas da
polícia... Como se alguém do laboratório fosse batalhar na floresta no meio da
madrugada. — Ela revirou os olhos.
Aurea Juniper se tornou uma das pessoas mais jovens a ser nomeada representante
de uma região, após seu pai, o renomado biólogo Cedric Juniper, ter abdicado do
cargo — mais uma pessoa importante saindo de sua posição em Unova nos últimos
anos... —. Sempre vestia roupas simples por baixo do seu jaleco branco
impecável, com sapatos de corrida confortáveis, mas ainda fazia questão de
manter seu cabelo castanho preso num coque elegante e de seus brincos vermelhos
— uma questão de vaidade.
— Oi, professora! — Bianca cumprimentou alegremente, quase tropeçando
enquanto levantava do chão.
— Bom dia, crianças! Ah, Hilda, você escolheu o Snivy!
— Arrã! — Hilda fez carinho na serpente que ainda estava pendurada em
seus ombros. Como de costume, ele não reagiu.
— Interessante!
— Hã, professora... — Hilbert limpou a garganta. — O Cheren me disse que
você-
— Sim, sim! Vim pra falar com você acima de tudo. Vamos entrando pra
podermos conversar melhor.
Por sorte, o Centro Pokémon estava praticamente vazio, exceto pela
enfermeira Joy que limpava o balcão junto à sua Audino. O Poké Mart Mini ainda
não estava aberto, nem a lanchonete no segundo andar. O ar-condicionado ainda
estava fraco, sinal de que havia acabado de ser ligado. O céu estava tão
nublado — e não dava sinais de melhora — que as luzes internas permaneciam acesas.
Os cinco se sentaram nos confortáveis sofás laranjas do Centro. Bianca e
a professora se sentando no menor, e Cheren, Hilbert e Hilda se apertando no
maior.
— Bom, vamos direto ao ponto! — Juniper colocou a caixa em cima da mesa
de café. — Vocês quatro sabem o que são Pokédexes, não sabem?
— Um dispositivo que registra automaticamente as informações dos Pokémon
que você encontra. — Cheren disse de imediato.
— Muito bem! — Ela assentiu. — Gostaria de destacar que, aos lhes dar
Pokédexes, o meu objetivo não é apenas que vocês registrem os dados dos Pokémon
de Unova, mas que elas também sejam de grande ajuda pra vocês em suas jornadas.
Se vocês conhecerem melhor o Pokémon que está a sua frente, vai ser muito mais
fácil enfrentá-lo ou capturá-lo, não é?
E da caixa, ela tirou quatro Pokédexes de diferentes cores: Rosa,
vermelho, azul e laranja. Hilda, Cheren e Bianca imediatamente pegaram as de
suas cores favoritas, enquanto Hilbert olhava pra professora em silêncio.
— Hilbert? — Ela ergueu a sobrancelha e apontou pra Pokédex vermelha com
a cabeça.
— Hã, eu vou voltar pra casa, professora.
— É, imaginei que você diria isso. É aí que entra meu pedido. Você já ouviu
falar do Mundo dos Sonhos?
Hilbert, e até mesmo os outros três, olharam pra professora com
curiosidade. O moreno fez que não com a cabeça.
— O Dream World, como a
professora Vera Bennoit o nomeou... Bem, chega até a ser difícil de explicar. —
Ela riu de leve. — É uma anomalia que
pode ser acessada através de um Pokémon chamado Musharna.
— Anomalia? Tipo um outro mundo? — Perguntou Hilbert.
— Ainda não há uma definição certa sobre o que é o Dream World,
exatamente, mas… Sim, é como se fosse um outro mundo.
— Que legaaaaal! — Hilda arregalou os olhos.
— Seria interessante explorar esse
outro mundo... — Snivy disse a si mesmo. — Ei, Azure, presta atenção!
— Eu quero descobrir como liga
isso aqui! — Respondeu a lontra revirando a Pokédex de Bianca com suas
patas.
— E como se usa uma Musharna pra acessar esse mundo? — perguntou Cheren.
— Bom, isso é algo que um especialista pode responder com mais detalhes.
E é nesse ponto que eu quero chegar: Eu tenho uma amiga, a professora Fennel,
que herdou o laboratório da professora Bennoit, lá em Striaton. E ela está
procurando por um assistente... Bom, mais um, pelo menos.
Hilbert ficou em silêncio por alguns instantes enquanto ligava os
pontos.
— E… A senhora quer que eu
seja o assistente dela?
— Eu quero que você escute o que ela tem a lhe oferecer, antes de mais
nada. Veja se você tem interesse na proposta dela. E se você se interessar… Por
quê não?
— Por que eu?
— Tem as notas necessárias pra tirar sua Licença de Treinador, tem idade
pra tal, e não está focado em insígnias ou em completar a Pokédex. E teria
alguém pra lhe apoiar caso seja necessário. — Ela gesticulou na direção de
Hilda. — E você é um rapaz inteligente. E… Alguém me recomendou você.
O sorriso de Aurea aumentou quando ela tirou uma folha de papel da
caixa. Hilbert resmungou assim que reconheceu a caligrafia.
— Ah, não… A gente tava falando no telefone ontem de noite! Por que ele não
me disse nada naquela hora?
— ‘Cê sabe como ele é, ele adora mandar uma cartinha! — Hilda riu.
Hilbert suspirou, e os irmãos aproximaram as cabeças pra conseguirem ler a carta juntos. Como ele havia imaginado, Andrew não havia se dado ao trabalho de seguir as linhas pontilhadas da folha...
"Surpresa! Eu sei, você deve estar pensando 'que saco, lá vem o papai com essa história de jornada de novo', mas, juro perante a Arceus, se você ouvir o que a professora Fennel (que é uma profissional maravilhosa!) tem a dizer e não tiver interesse, vou te deixar voltar pra casa em paz.
De novo, sei que você tá cansado de ouvir isso de mim, mas eu de todo coração acredito que sair vai te fazer bem. Você me disse há um tempo que se sentia sem direção. Talvez isso te ajude a encontrá-la. Faça isso não por mim, por sua mãe ou pela Hilda. Faça isso por você mesmo. Dá uma chance das coisas acontecerem com você. Pra saber o que tem dentro de uma semente, você precisa plantar ela primeiro.
E eu escolhi um Pokémon especialmente pra você! Acho que você vai gostar dela, ela é um amorzinho, todo mundo aqui no Transfer Lab adora ela, e sei que ela vai cuidar muito bem de você. E é seu tipo favorito, não é?
Te amo! Por favor, não fique com raiva do seu pobre pai! Assim que eu puder, vou atrás de você e da sua irmã pra dar um oi! Falando nela, dá um abraço nela por mim, tá? Sinto muita saudades de vocês dois. Fiquem bem!"
Hilbert engoliu as lágrimas com a garganta apertada. Se existia alguém capaz de mexer com seu coração, com certeza esse alguém era seu pai. Ele disse na carta pra tomar essa decisão por ele mesmo, mas era difícil não sentir-se na obrigação de fazer isso por ele… Principalmente depois da morte súbita de seu avô, que na época parecia algo do qual Andrew nunca iria se recuperar totalmente.
— Ok. — Ele disse, com a voz trêmula, limpando a garganta em seguida. — Eu aceito. Eu vou até Striaton.
Cheren e Bianca sorriram pra ele em aprovação. Hilda, por outro lado, lhe deu um tapa tão forte no ombro que ele jurou ter ouvido um osso estralar. A enfermeira Joy tomou um susto com o barulho, mas riu quando percebeu o que tinha sido.
— Fico feliz de ouvir isso, Hilbert. De verdade. Tendo dito isso... — O sorriso de Aurea aumentou ainda mais.
Ela tirou uma Poké Ball preta, com listras amarelas e vermelhas no topo. O fecho era dourado, luxuoso. Hilbert suspirou alto de novo. Ele devia ter imaginado que tudo isso iria acontecer, conhecendo seu pai. Se ele tivesse a licença que permitia ter um Pokémon de outras regiões, ele apostaria que o pai teria lhe dado um certo Pokémon de presente...
— Deixa eu adivinhar... É um Oddish? — Ele brincou.
A reação da professora foi inesperada. Ela arregalou os olhos de leve e manteve a expressão de surpresa por alguns segundos, mas tentou disfarçar com uma risadinha sem graça. Talvez ela não tenha sacado a piada interna? Hilda, Cheren e Bianca pareciam tão confusos quanto ele.
— Não, não é um Oddish.
— E-eu sei, tava brincando.
Sem dizer mais nada, a mulher apertou o botão central da Poké Ball, e do típico flash de luz vermelha, apareceu uma criaturinha turquesa e cabeçuda, com olhos verdes grandes e brilhantes e listras pretas na sua looonga testa. Ela levantou a mão que tinham três dígitos pequenininhos que pareciam luzes, nas cores vermelha, verde e amarela, e piscou o dígito verde para Hilbert duas vezes.
— Hmmm. Elgyem. Interessante. — Cheren ajustou seus óculos no rosto.
— Ela está te dando oi! — Explicou professora Juniper.
— O-oi. — Ele acenou timidamente.
Mais uma vez, a Elgyem piscou verde duas vezes, e fez outra sequência de cores logo em seguida: Vermelho, amarelo, verde e amarelo.
— Ela é um Pokémon de suporte. Só tem um movimento ofensivo, que é Psybeam. De resto, ela sabe Protect, Thunder Wave e Teleport.
— Teleport? — Hilbert ficou interessado.
— Sim. Mas ela ainda não chega muito longe, então não abuse da sorte. O que eu quero dizer é: Com esta Elgyem do seu lado, você não precisa ter nenhum outro Pokémon na sua equipe se não quiser. Ela é mais do que o suficiente pra proteger você, o que é essencial em qualquer jornada. Não dá pra saber o que você vai encontrar lá fora.
Por mais que ele não quisesse dar o braço a torcer, Hilbert precisava admitir que não parecia tão ruim. Um Pokémon de suporte.
— E Elgyem tem uma boa linha evolutiva pra se ter pra autodefesa contra outros humanos, correto? — Cheren perguntou. — Ela pode causar enxaquecas.
— Mh-hm. — A professora fez que sim. — Muito bem, Cheren. É verdade, embora eu espere que você não precise usar pra esse fim.
— Acho perfeito pra quem não consegue nem subir uma ladeira. É só usar o Teleport!
— Cala a boca, Hilda — resmungou Hilbert, mas estava sorrindo de leve.
— Só toma cuidado com dispositivos eletrônicos... Elgyem pode dar uma interferência estranha se ficar muito perto de algum. Não deixe ela brincar com seu Xtransceiver ou com sua Pokédex. Falando nisso, Oshawott, eu estou vendo você mexendo na Pokédex!
O Pokémon de água largou o dispositivo na mesa, emburrado. Elgyem começou a cumprimentar os outros humanos na mesa, passando por Hilda, Cheren e Bianca com o mesmo sinal de antes: Verde duas vezes. Ela fez o mesmo com Oshawott, que acenou de volta, e com Snivy, que não esboçou muita reação além de um sibilo entediado.
— Olá! É um prazer lhe conhecer! — Sua voz parecia um eco eletrônico. — Meu nome é Nia!
— Igualmente... Emerald.
Como de costume, ele não parecia impressionado. Foi aí que Aurea percebeu que ele estava enrolado no pescoço de Hilda.
— Ah, ele faz isso com você também? — Ela apontou pra serpente. — É um bom sinal.
— Um bom sinal? Não parece...
— É, ele é um pouco bruto. Mas desde que não seja com intenção de te machucar... Só não deixe esse ser um hábito muito frequente. — A professora avisou. — Vai dar trabalho eliminar esse comportamento quando ele evoluir. Incentive-o a andar por conta própria pouco a pouco.
— Pode deixar!
— Pra você é fácil falar, com essas pernas enormes de humano… Olha pras minhas! O que custa me carregar?!
— Muito bem. Hilbert, Hilda, era isso que eu tinha pra dizer a vocês, mas eu gostaria de ter uma palavrinha com Cheren e Bianca. Em particular.
Os irmãos se levantaram e rapidamente se despediram dos amigos e da professora. A Elgyem colocou as duas mãozinhas no ombro de Hilbert quando ele se afastou da mesa. Não que ela precisasse, ela poderia simplesmente flutuar, mas usou o garoto de apoio assim mesmo.
— E aí, qual a sensação de ter um Pokémon?! — Hilda perguntou, empolgada.
— Sei lá, acho que é muito cedo pra dizer... Mas tô feliz com o que o papai escolheu, pelo menos. Gosto de psíquicos.
— O que é você, exatamente? Nunca vi ninguém igual a você antes. — Emerald perguntou ao Pokémon que estava no ombro de Hilbert.
— Sou uma Elgyem, e sou do tipo psíquico.
— Hm. Quem diria, você é a segunda esquisita que eu conheci em menos de dois dias. O primeiro foi aquele grandão de metal na floresta...
— Na floresta? — Nia se interessou.
— Ontem à noite, ouvi alguns barulhos estranhos na floresta do lado do laboratório onde eu morava. Barulhos de eletricidade. E eu precisava investigar aquilo. E encontrei dois humanos e dois Pokémon estranhos.
— Grandão de metal... Talvez seja um Klinklang, como os humanos chamam? Havia alguns deles no laboratório de onde eu vim. Como era o segundo?
— Alto, com pelo comprido. Arrancou um pedaço do corpo desse Klinklang com uma mordida só. Parecia ser bem forte. Mas pelo que os humanos disseram, não foi um ferimento fatal.
Enquanto os Pokémon conversavam entre si, seus mestres entraram de novo no Slither Park, caminhando devagar.
— A gente vai esperar a Bibi e o Ren? — Indagou Hilda.
— Acho que sim, né? Custa nada. E a gente ainda tem coisa pra fazer por aqui. Eu preciso voltar pro Centro pra fazer minha Licença de Treinador... Demora pelo menos um dia útil pra emitir ela.
— Um dia útil? Então a gente vai ter que dormir aqui?
— Sim. E preciso ir no Poké Mart pra comprar coisas pra mim-
— Ah, então... — Hilda sorriu maliciosamente. — Eu meio que já sabia desse rolê da professora Fennel, e eu trouxe comigo todas as suas coisas. Mamãe que me ajudou a montar sua mala.
Hilbert arregalou os olhos e abriu a boca em choque, e logo em seguida, deu um empurrão no ombro de Hilda. Ela mal saiu do lugar, sendo muito mais forte que o irmão, mas Emerald chiou em protesto mesmo assim.
— Você sabia, sua desgraça?!
— Por isso que eu falei que minha bolsa tava pesada! — Ela gargalhou.
— Como que diabos as minhas coisas couberam nessa bolsa?!
— Cabendo, ué!
Antes que ele pudesse xingar mais a irmã, no entanto, algo mais ao longe chamou sua atenção. Uma multidão de pessoas reunidas logo na frente de um pequeno palco improvisado.
— O que é aquilo ali?
— Hã? — Hilda se virou pra direção que ele estava olhando. — Não sei. Será que é, tipo, um show ao vivo?
— Só tem um jeito de descobrir, acho... A gente não tá fazendo nada mesmo.
— Vamo lá, então!
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
ReplyDeleteAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
DeletePobre Hilbert só queria ficar quieto em casa huehueuhe
ReplyDeleteMas legal que ele ganhou um pokémon, o toque dos ataques de suporte foi ótimo, e eu gostei do destaque a esse pokémon, pois ele (pra mim pelo menos) já não é tão visto nos games, e eu não me lembro de ver ele sendo usado nas fanfics. Gostei da interação entre os pokémon, foi muito legal de se ver.
Vimos também mais do relacionamento entre Hilbert e seu pai, quero ver quando ele for aparecer na história.
Vamos ver como vai desenrolar a partir daqui, Bibi já pegou o seu futuro stoutland guerreiro, e honestamente, estou preocupado para quando o pai dela se encontrar com ela, espero que eles consigam trabalhar isso juntos, mas sei como a relação com familia é complicada.
Foi um bom capitulo, Jolly, até a próxima :D
Cara, pior que quando eu tava pensando num Pokémon pro Hilbert, eu já sabia que seria um psíquico, só que eu tava pensando num outro bicho... Mas aí vi o Elgyem lá isolado no fundo da Pokédex de Unova e fiquei "rapaz, acho que seria interessante"... E aqui estamos kkkkkkk Era um Pokémon que nem eu lembrava da existência, e tá virando um dos meus favoritos!
DeleteÉ mto interessante ver as dinâmicas dos personagens crescendo, né? Hilbert e seu pai, Emerald com os outros Pokémon... Mas... Bianca com o pai dela é preocupante msmo. Vamo ver isso aí!
Até a próxima, meu querido <3
JOLLY DO CÉU POR QUE VOCÊ ME FEZ CHORAR COM ESSE CAPÍTULO? aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
ReplyDeleteEu já sabia que o Hilbert iria partir com a Hilda eu só não esperava que eu veria algo sentimental tão cedo. Nossa que cena mais fofa a da carta e a da proposta da Juniper e foi muito bom você ter dado um Elgyem ao menino Hilbert. Elgyem é um Pokémon tão negligenciado e esquecido e acaba que combina com o Hilbert de certo modo.
Ambos são deslocados, alienígenas aos meio que estão, fora o fascínio do Hilbert pelos Pokémon psíquicos. Foi um casamento perfeito e eu te admiro por isso. Não é seu aniversário, mas está de parabéns!
Amei que fez referências ao Transfer Lab. Sério. Aqui você foi grandona. Agora quero saber o que está acontecendo no Slither Park, se me dá licença eu tenho que ir ver, estarei ali na fila da frente.
AAAAAAAAAAAAAAAAAA EU LACRIMEJEI ESCREVENDO A CARTINHA, ENTÃO TAMO QUITE KKKKKKKKKKKKKKK
DeleteCara, o Elgyem foi uma escolha que eu tô mto satisfeita! Comentei lá em cima que eu sabia que queria um psíquico pro Hilbert, mas fui olhando a dex de Unova sem ter um Pokémon específico em mente... Mas quando eu olhei pro Elgyem, na hora eu bati o martelo e decidi que tinha que ser isso mesmo! E pelas reações de vocês, escolhi certo <3
Aaaaah, Transfer Lab! Fisicamente, é um lugar que tá longe, mas já tá mencionado aqui desde o começo, né? >:3 Vamo ver pra onde vai! AGR CORRE LÁ PRA VER O QUE TÁ ACONTECENDO NAQUELE PARK!
E finalmente esse encontro com a Juniper aconteceu! Rapaz, a bendita parece até a noiva no casamento, metendo aquele atraso e deixando todo mundo esperando uma vida achando que ela morreu no caminho só porque é estiloso. Como se já não fosse o suficiente o perdido que ela deu nos garotos lá em Nuvema. Francamente!
ReplyDeleteMas ok, em compensação o encontro rendeu alguns pontos interessantes. Acho que esse capítulo foi o marco final pra dar início à jornada do quarteto, que nessa altura do campeonato só tava esperando o Hilbert deixar de frescura e aceitar que treinador também é bicho, e que do mato viemos e pro mato voltaremos. Aceita que dói menos, man.
Elgyem foi uma adição surpreendente aqui! Como eu não lembrei na hora que você já tinha comentado sobre (e por isso eu digo que sou de boas pra receber spoiler, porque a maioria eu esqueço mesmo - TDAH tem que ter alguma coisa positiva, porque senão é complicado), acabei tendo essa surpresa ao vê-la como o Pokémon inicial do Hilbs. Acho que essa é a primeira vez que vejo a espécie em uma fic de jornada. E como eu gosto desses Pokémons mais exóticos sendo trabalhados e ganhando destaque, tô longe de reclamar kkkkkkkkkk
Mas no fim de tudo é isso. Hilbert tava relutante em aceitar ir ouvir a proposta da Fennel, mas a cartinha do Andrew deu uma balançada nele. É engraçado como todo mundo tem uma pessoa em específico que acaba conseguindo superar a teimosia de cada um. Se o Andrew pedir pro Hilbert pular da ponte, acho que ele pula kkkkkkk Mas por sorte é do Andrew que estamos falando, e ele não faria isso. :v
Agora essa movimentação estranha na praça tá com uma cara estranha. Toda essa comoção em uma cidade de pequeno-médio porte? Por quê?
Até a próxima! õ/
POIS É, RAPAZ, PROFESSORA IRRESPONSÁVEL, DANDO BOLO NOS BICHINHO! Só pq a Polícia Federal deu três batidinhas na porta do laboratório dela, rola esse atraso todo!
Delete"Treinador também é bicho e que do mato viemos e pro mato voltaremos" me tirou uma gaitada mto sincera pq parece mto algo que a Hilda falaria HUAHUAUUHAUHAU
Simmmm, eu mencionei nos comentários lá em cima, mas eu sabia que queria um bicho psíquico pro Hilbert, e quando bati o olho no Elgyem, fiquei "nunca vi ele tendo destaque em mídia nenhuma de Pokémon (malamá no mangá)... vai ser ele mesmo!". Unova é uma região mto propícia pra dar destaque a bichos mais isolados, pq acho que é uma gen que os Pokémon populares são BEM lembrados, mas os nem tanto são BEM esquecidos!
Exato, todo mundo tem aquela pessoa que sabe como trazer a tona seu lado mais soft, e no caso do Hilbert, com ctz é o pai dele! E SIM, SE ELE PEDISSE, ELE PULAVA DA PONTE HUAUHAUHUAU Se o Andrew disse, tá dizidido!
Agr vamo ver o que tá rolando no Slither Park, né... >:]