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- Capítulo 2
Posted by : Jolly
May 17, 2020
— A jovem Tanya Altova foi encontrada morta em um
depósito abandonado na Rota 18. Seu corpo estava coberto de marcas de bicadas,
o que sugere que ela foi atacada por um Pokémon voador. — O tom da repórter era
fúnebre. — Porém, não há nenhuma criatura deste tipo nas proximidades, o que
torna este caso ainda mais misterioso e preocupante.
Hilbert rapidamente desceu as escadas, e teria passado
reto pela porta se sua mãe não o tivesse interrompido:
— Bert?
— Espera aí, alguém tá me liga-
O garoto parou ao ver a foto da garota falecida na
tela da TV.
— Essa é a assistente do professor Rondon, não é? —
Helga franziu a testa, preocupada. — Aquele colega do seu pai?
— É sim... O-O que aconteceu com ela?
— Eu acho que ela foi devorada por um Pokémon…
Pobrezinha…
Ainda de olhos arregalados, Hilbert desviou o olhar
para o celular. A tela indicava que “Pai” estava ligando. Que coincidência…
Talvez ele estivesse ligando para dar a notícia. Bem na hora que ele aceitou a
chamada e colocou-a no viva-voz, Bianca, Hilda e Cheren desceram para a sala de
estar, cada um carregando seus respectivos Pokémon — Cheren ainda não parecia
muito satisfeito com seu Tepig —.
— Oi, pai. É verdade mesmo o que aconteceu com a Tanya?
Eu acabei de ver na TV...
O pesar era evidente no suspiro dado por Elias Muller
no outro lado da linha.
— Infelizmente,
sim… Rondon está devastado. Ela era como uma filha para ele… Não consigo
imaginar o quão difícil foi pra ele acordar com uma notícia dessas.
— O que tá pegando? — Hilda perguntou, tentando manter
a sua Snivy em seus braços. — O que aconteceu com a-Para de empurrar minha
cara!
— A assistente do professor Rondon. Ela morreu. —
Hilbert voltou a se concentrar na conversa com o seu pai.
A atmosfera voltou a ficar pesada. Hilda murmurou um
palavrão.
— Oh, não… — Bianca parecia mais pálida do que o
normal. — Mas… Vocês têm alguma ideia de que Pokémon poderia ter feito isso?
— Como disseram
na TV, os legistas acham que foi um tipo Voador… Mas provavelmente foi a mando
de algum treinador. Pokémon desse tipo não são comuns na Rota 18, que é bem
pertinho daí. É até bom que vocês estejam saindo de Nuvema hoje…
Um pesado silêncio tomou conta da sala de estar por um
momento. Como o centro de pesquisas do professor Rondon se localizava em
Castelia, ele raramente visitava Nuvema. E, por extensão, a sua assistente
também não era uma visita frequente. Porém era sempre muito bom vê-los nas
poucas vezes que eles apareciam. Tanya sempre foi muito querida pela família… E
pelo professor também.
— Eu
acredito… Que ela iria querer que nós seguíssemos em frente. Por ela. — Elias respirou fundo antes de continuar a falar. A
sua voz se tornou menos entristecida, no entanto. — Tendo dito isso… Vocês já pegaram o presente da professora Juniper? O
que acharam?
— Uh… — Os ombros de Hilbert ficaram um pouco mais
tensos. — Sobre isso…
Para a sorte dele, Hilda correu para tomar o celular
da mão do irmão, o que o salvou de ter que explicar pro seu pai que ele não
pegou um Pokémon.
— Eu escolhi Snivy!
— Que bom, minha filha! Excelente escolha, se me
permite dizer… Snivy é um ótimo inicial. O meu favorito de Unova, na verdade!
— Deixa eu adivinhar: Por que ele é do tipo grama?
— É… — ela deu uma leve risada. — Talvez seja por
isso.
Por mais que Hilda fosse sua enteada, não há dúvidas
que Elias a vê como sua própria filha. Os moradores mais novos da cidade nem
sequer sabem que ele não é o pai biológico da garota… E, para os Muller, é
melhor que elas pensem assim. Certas coisas devem permanecer no passado.
— Enfim, vocês deveriam dar uma visita à professora…
Tenho certeza que ela deve ter mais algumas coisas para vocês.
— É, eu sei. A gente estava prestes a sair de casa.
— E o Hilbert? Que Pokémon ele escolheu?
Antes que Hilda pudesse fazer qualquer comentário
engraçadinho ou irônico, Hilbert conseguiu recuperar o seu celular das mãos da
irmã. Ela até tentou pegá-lo de volta, mas já era tarde demais.
— Eu… Uh… Não escolhi nenhum.
Elias ficou quieto por alguns instantes.
— Não escolheu nenhum? Como assim?
— Não peguei nenhum dos iniciais.
— Por quê?
— Porque eu não quis? — A frase soou mais como uma
pergunta do que uma afirmação.
— Como você não quis Hilbert? Ter um Pokémon sempre
foi seu so-
— Ah, nossa! A professora está me ligando! Eu preciso
desligar, pode ser urgente! Tchau pai! Manda um oi para a Domi e para o
professor Rondon por mim!
E, simples assim, ele desligou a chamada, colocou o
celular no bolso — não antes de quase derrubá-lo no chão — e se virou para
Hilda, Cheren e Bianca com o sorriso mais forçado do mundo no rosto. Cheren e
Bianca se entreolharam. Até a Snivy parou de se contorcer nos braços da Hilda
para ver o que estava acontecendo.
— Então… Uh… A gente deveria ir logo. Falar com a com
a professora. E… Ver o que ela quer.
— Na verdade… Por que vocês três não vão na frente? —
Helga estava falando com Hilda, Bianca e Cheren, mas seu olhar não se desviou
de Hilbert. — Eu preciso conversar com o Bert.
— M-Mas mãe…
— É rapidinho! Não vou demorar! Podem dizer à Aurea
que é uma conversa importante.
Hilbert audivelmente engoliu em seco.
— A gente já vai indo, então! — Hilda empurrou os seus
dois amigos de leve com os ombros. A Snivy dela ainda encarava o garoto com um
olhar desconfiado. — Até daqui a pouco, Bert!
Assim que a porta se fechou, a expressão da mulher
ficou séria, o que não era comum para ela. Helga geralmente tinha uma expressão
alegre no rosto, assim como Hilda. Elas eram a cópia perfeita uma da outra:
Mesmos olhos azuis, mesmo cabelo castanho desbotado… Até o porte físico forte e
a altura — as duas estavam acima de 1,75m, mas Hilda conseguiu ficar um pouco
mais alta que a mãe — eram similares. Hilbert era muito mais parecido com o
pai: Não tão alto, meio magricela… E asmático.
— Por que você não escolheu um Pokémon? — Helga foi
direto ao ponto, como sempre. — Não venha me dizer que você não quis, porque eu
sei que não é verdade.
— Eu… Quis dar o meu para a Bianca.
— Pra a Bianca? — Ela ergueu uma sobrancelha. —
— É. Achei que ela precisava mais do que eu…
— Filho… Isso é muito gentil da sua parte. E, é claro,
eu amo a Bianca, ela é um amorzinho… Mas… Ela não tinha, nem de muito, muito
longe, tanto interesse em se tornar uma treinadora quanto você.
— Mas eu nem vou desafiar os ginásios…
— Ela também não.
— Mas… Uh… — ele gaguejou. — Ela…
— Sem contar que você tirou uma nota maior do que ela
no PRJT!
— Mas Hilda e Cheren tiraram notas maiores que a
minha!
— Eles são de outra categoria, Hilbert! — Helga
suspirou, tentando esconder sua frustração. — Você e Bianca eram da categoria
de Viajantes, e eles da de Treinadores! Uma coisa não tem nada a ver com a
outra. E você vive dizendo pra a Bianca que notas não refletem o seu nível de
inteligência. Então por que pra você seria diferente?
Hilbert ficou parado de boca aberta por alguns
segundos, tentando refutar as palavras da mãe. Mas, finalmente, os argumentos
dele tinham acabado.
— Bert… Eu entendo se você não quiser dizer o porquê.
Mas… Quando se sentir a vontade pra falar… Eu vou estar aqui.
O garoto sentiu algumas lágrimas surgindo em seus
olhos, mas piscou rapidamente para afastá-las. Ele fez que sim com a cabeça com
tanta firmeza, que ele ficou até um pouco tonto.
— Pode ir agora. E não se esqueça de voltar pra buscar
o resto das suas coisas!
— Ok.
— Já separou o inalador?
— Já, mãe.
— E o remédio pra pressão?
— Já separei também.
— E a vitamina C? Vai levar? Ou vai comprar na rua
mesmo?
— Mãe, eu nem saí de casa ainda! Eu só vou no
laboratório e já volto!
— Tá bom, tá bom! — ela revirou os olhos. — Então
volta logo!
— Até daqui a pouco.
Hilbert saiu pela porta antes que ela pudesse enchê-lo
de mais perguntas… Ou antes que ele começasse a lacrimejar de novo.
Nuvema já estava sendo afetada pelo inverno que estava
começando. Por mais que ainda não houvesse nenhum sinal de neve, havia algumas
nuvens um pouco escuras no céu e a temperatura já tinha abaixado
consideravelmente. A brisa salgada que vinha do mar era de congelar os ossos,
para dizer o mínimo. A grama havia perdido a sua cor, e os Pidoves que
geralmente dominavam a cidade não estavam em lugar nenhum. Havia menos gente
nas ruas também. O frio deixa mesmo as pessoas preguiçosas, principalmente de
manhã cedo. Mesmo assim, a pequena cidade dos Sawsbucks, o mascote local,
continuava com a sua energia amigável e aconchegante.
Assim que Hilbert virou a esquina, encontrou os seus
três amigos encostados na parede de um prédio, esperando por ele. A primeira
coisa que ele percebeu é que Hilda parecia ter feito algum progresso com Snivy,
pois a pequena serpente não estava mais empurrando seu rosto, e agora estava
enrolada no seu pescoço, parecendo um cachecol mal-humorado. Hilbert rezou para
que ela não estivesse planejando enforcar sua treinadora num futuro próximo…
Cheren parecia menos decepcionado por ter ficado com Tepig — estava até fazendo
carinho na cabeça dele —, e Bianca com Oshawott… Bom, eles pareciam igualmente
apaixonados um pelo outro. Alguém tinha que se dar bem.
— Vocês deveriam ter ido na frente… — Hilbert
resmungou, se aproximando. — Não podemos nos atrasar!
— Não teria graça sem você. Temos que ir todos juntos!
— justificou Bianca.
— Se a gente não pode se atrasar, então anda logo!
Hilda agarrou o irmão pelo pulso e o puxou consigo,
andando o mais rápido que podia — sem correr, ou Hilbert provavelmente iria
ficar sem ar —. Cheren e Bianca seguiram logo atrás deles.
— Vocês vão dar nomes ao seu Pokémon, né? — a garota
loira perguntou. — Eu já sei que nome vou dar ao meu Osha!
— Claro! E eu também já sei exatamente que nome dar,
seja menino ou menina! — Hilda virou o rosto para falar com os outros dois.
— Eu não ia… Mas Bianca me convenceu. — Cheren
rapidamente limpou seus óculos na sua jaqueta cara enquanto andava.
— A gente tem que dar! É que nem você chamar um humano
de humano!
— Mais da metade da população não dá nomes ao seus
Pokémon, Bianca.
— Bem, eu não faço parte dessa porcentagem!
Hilbert suspirou baixinho por estar andando mais
rápido do que o normal… E por estar se sentindo um pouco excluído da conversa.
Ah, e também porque Hilda quase o fez tropeçar na raiz de uma árvore.
— Quem coloca isso no meio da calçada?! — Ele
murmurou, ainda sentindo o coração acelerado com o susto.
— Que nome você vai dar pro seu Tepig, Cheren? — Hilda
nem tinha percebido que quase fez o irmão cair de cara no chão.
— Se for um macho, Markus. Se for fêmea… Eu não pensei
ainda, para ser sincero. Mas provavelmente é um macho.
— Nome imponente, hein?
— A intenção é essa.
Finalmente, o quarteto chegou ao laboratório da
professora Juniper, que, de longe, era um dos maiores prédios de Nuvema… O que
não significa muito, já que era um centro de pesquisa bem pequeno se comparado
a outros — Cheren disse uma vez que “não é nada se comparado ao do professor
Sycamore na cidade de Lumiose” —. Mas, de acordo com a professora, ela não
consegue se concentrar muito bem em ambientes muito grandes, então ter um
laboratório pequeno numa cidade pequena é uma coisa boa. De uns anos pra cá, se
mudar para cidadezinhas virou moda entre professores Pokémon… Os terrenos no
interior provavelmente são mais baratos.
Por ser domingo de manhã, não havia muitos cientistas
no laboratório, e os poucos que estavam trabalhando tinham canecas cheias de
café em suas mesas, o que incluia a própria Juniper, que teve que engolir a
bebida às presas para receber os quatro jovens.
— Bom dia! Eu estava esperando por vocês!
— Desculpe pelo atraso, professora… Minha mãe teve que
resolver uma coisa comigo de última hora — Hilbert abaixou a cabeça.
— Sem problema. O importante é que vocês estão aqui!
Cientistas podem parecer sérios e distantes aos olhos
de alguns, mas este com certeza não era o caso de Aurea Juniper. Com o seu
coque desnecessariamente complicado, brincos grandes e tênis vermelhos, se não
fosse pelo jaleco, seria difícil imaginá-la como a professora representante da
região de Unova, especialmente levando sua pouca idade em consideração.
— Agora, deixe-me me apresentar mais uma vez. Meu nome
é-
— Nós sabemos o seu nome, professora Juniper.
— Direto ao ponto como sempre, hein, Cheren? — ela parecia
estar segurando uma risada. — Mas hoje é um dia que vocês se lembrarão para o
resto de suas vidas, então é melhor nós nos comportamos com uma certa…
Formalidade. Tendo dito isso… Meu nome é professora Aurea Juniper, e estou
pesquisando sobre quando e como as criaturas chamadas Pokémon surgiram em nosso
mundo. E eu escolhi vocês para me auxiliarem nessa pesquisa!
Hilda levantou a mão, como se estivesse numa sala de
aula.
— Nós podemos dar nomes aos nossos Pokémon, né?
— Claro que sim! Você só poderá registrá-los
oficialmente em um centro Pokémon, mas você pode escolher desde já se quiser…
Aliás, Oshawott e Tepig são meninos, e Snivy é uma menina!
O grito que Hilda deu foi tão agudo que o Minccino da
Juniper quase caiu do sofá de susto.
— Isso!
A garota ficou vermelha ao perceber que todos estavam
olhando para ela. Hilbert sacudiu a cabeça em desaprovação.
— Uh… Quero dizer… Fêmeas são bem raras, né?
— Um Snivy tem doze vírgula cinco por cento de chance
de ser uma fêmea — Cheren informou.
— Isso mesmo, Cheren! Vejo que você continua um
estudante ávido. Mas, voltando ao assunto dos nomes… Quais vocês darão aos seus
Pokémon?
— Regina! — Hilda exclamou antes que mais alguém
tivesse a oportunidade de falar. — Um nome de rainha.
— Oooh, faz sentido! Ela tem cara de realeza… E o nome
do meu Osha vai ser Azure! — Bianca abraçou a pequena lontra, que alegremente
abanou a cauda como se fosse um cachorrinho.
— E meu Tepig se chamará Markus.
Azure e Markus pareciam felizes, e Regina… Parecia
satisfeita, o que era um progresso, considerando o quão apática a sua expressão
era normalmente. Enquanto isso, Hilbert se encontrava sentado no sofá ao lado
do Minccino da professora — que tinha conseguido voltar a dormir depois de ser
despertado por Hilda —, mexendo no seu celular em silêncio. O Wi-Fi do
laboratório era excelente, perfeito para jogar Pokémon Crossroad: Pocket Campsite.
— Que nomes ótimos! E agora que isto já está decidido…
Bem quando Hilbert estava prestes a spammar pedidos de presente para Hilda,
a professora sorrateiramente se aproximou do garoto e tomou o celular da sua
mão com um movimento ágil.
— Quê?
— Eu também quero falar com você, Hilbert!
— Mas… Eu dei meu inicial para a Bianca.
— Não significa que você está fora do programa. Eu
escolhi você, não escolhi?
Com certa relutância, Hilbert se levantou do sofá e se
posicionou ao lado de Hilda.
— Agora, como vocês já devem saber, os jovens
aprovados no PRJT recebem, de forma gratuita, uma Pokédex. A Pokédex é um
aparelho altamente tecnológico que automaticamente grava informações sobre os
Pokémon que você capturou ou encontrou. E eu quero que vocês quatro explorem a
região de Unova para registrar os dados de todos os Pokémon da região na
Pokédex!
— Todos eles? — Bianca murmurou para si mesma. —
Caramba!
— Há muito que não sabemos sobre os Pokémon da região
de Unova, e completar a Pokédex regional certamente ajudaria bastante. E para
esta importante tarefa, eu escolhi os candidatos que mais me agradaram. Quatro
alunos que tiveram as notas mais altas em suas respectivas categorias: Hilda e
Hilbert Muller, Cheren Price e Bianca Rossi.
Vocês irão numa aventura para completar a Pokédex?
— Sim! — Cheren e Hilda falaram ao mesmo tempo, com a
mesma firmeza em sua voz.
— OK! Quero dizer… — a loira sacudiu de leve a cabeça.
— Sim, professora!
— Já que a senhora insiste… — Hilbert suspirou. — Sim.
— Muito obrigada! Vocês me deram a melhor resposta
possível!
Juniper tirou quatro Pokédexes vermelhas do bolso do
seu jaleco e entregou aos adolescentes.
— Podemos colocar capinhas nelas, né? — Hilda
perguntou. — Eu não gosto de vermelho.
— Hilda! — Hilbert deu uma leve cotovelada na irmã.
— Claro que sim. Vocês podem comprar capas no Centro
Pokémon de Accumula… Aproveitem e façam seus cartões de treinadores também!
Eles serão itens essenciais para sua jornada. Agora que as Pokédexes estão
entregues… Imagino que vocês precisem voltar para casa e preparar suas coisas.
Depois de agradecerem à professora, os quatro amigos
saíram do laboratório, se despediram por um momento e foram para suas casas — Bianca
parecia um tanto quanto hesitante, mas os outros três decidiram não tocar no
assunto —. O clima tinha melhorado um pouco nesse meio tempo: O céu estava com
menos nuvens, e estava ligeiramente menos frio.
Mas estava frio o suficiente para Hilda ter levado uma
“casacada” na cara no momento que ela abriu a porta de casa. Foi uma pancada
forte o suficiente para derrubar Regina do pescoço da sua treinadora. A Snivy
fez um barulho parecido com um resmungo, e se deitou no sofá.
— Eu! Já! Disse! Pra! Você! Usar! Um! Casaco!
— Ai, mãe! Desculpa! Eu esqueci!
— Esqueceu, né? Vou fingir que acredito! E pode ir
botar uma calça também! Você não vai sair nesse frio com essa roupa!
Depois de alguns minutos de discussão, Hilda subiu as
escadas para trocar de roupa, e voltou usando um casaco preto com capuz e
leggings pretas grossas por baixo dos shorts, com uma expressão levemente
rabugenta no rosto. Helga parecia satisfeita, no entanto.
— Eu trouxe as nossas mochilas — a garota as jogou em
cima da mesa. — Vê se tá tudo certo aí.
— Mas você tá brava? — Hilbert zombou.
— Fica quieto.
Hilda esvaziou
sua mochila por um momento para verificar se tinha colocado tudo dentro dela.
Ela não tinha muitas coisas além do essencial. Pacotes de salgadinhos e
biscoitos, vários prendedores de cabelo e uma escova — muito importante quando
você tem tanto cabelo… — e, por algum motivo, uma bola de vôlei murcha.
Hilbert, por outro lado, tinha coisas até demais:
Livros, revistas, artigos, muitos remédios — para insônia, ansiedade, pressão,
dores, asma, sinusite… — e vitaminas (C e D), band-aids, óculos de leitura e lentes de contato extras, headphones
sem fio, dois powerbanks, saquinhos
de chás, papel higiênico extra…
— Cara, a barraca já tá fazendo peso, e você ainda vai
levar tudo isso?
— Sim.
— Quer que eu troque? Você carrega a minha, e eu
carrego a sua?
— Não, eu consigo. — Hilbert insistiu.
— Se você tá dizendo…
Ambos os irmãos também carregavam equipamento de
campismo, seis Poké Balls, o último modelo do Xtransceiver conectado ao seus
respectivos celulares — que foram dados à eles ao serem aprovados no PRJT, já
que dificilmente a família seria capaz de pagar pela versão mais recente em
condições normais —, e, claro, suas Pokédexes.
Depois que Hilda e Hilbert confirmaram que tudo estava
pronto, o clima ficou um tanto quanto agridoce.
— Então… A hora chegou. — Hilda disse, quebrando o
silêncio.
— Chegou mesmo… — Helga deu um suspiro longo. — Nem
consigo acreditar.
— Mãe, tem certeza que não quer que eu fi-
— Não, Hilbert. Você tem que ir. Eu sei que é o que
você quer. Mas… Tome cuidado, amor. Não esqueça de tomar seus remédios, cuidado
com a asma e não fique acordado até tarde. Me ligue se precisar de alguma
coisa.
Helga deu um beijo na testa do filho, e em seguida,
colocou uma mão no ombro da filha.
— Tome cuidado também, tá? Não quebre nenhum osso,
tome conta do seu irmão, penteie o cabelo, e, por favor, não tira esse casaco.
E se algum garoto te deixar desconfortável…
— Eu chuto as bolas dele. — Hilda sorriu de forma
maldosa.
— Isso mesmo. Qualquer coisa, eu te tiro da cadeia. E…
— Helga fungou, piscando para afastar as lágrimas. — Abraço em grupo?
Os três se abraçaram, e, por um momento, a sala de
estar estava em completo silêncio. Quando eles se soltaram, todo mundo estava
com lágrimas nos olhos.
— A gente vem te visitar assim que pudermos, mãe. —
Hilbert prometeu.
— Urgh, vão logo antes que eu mude de ideia! Vão, vão!
— Ok, ok! — mais uma vez, Hilda agarrou o braço do
irmão mais novo. — Vamos logo antes que eu comece a chorar, Bert! Tchau mãe! A
gente te ama! Vem, Regina!
Regina se levantou em um pulo e voltou a se enrolar no
pescoço da sua treinadora. No instante que os irmãos saíram pela porta, Hilbert
bruscamente se desvencilhou de Hilda.
— Dá pra parar de ficar me puxando desse jeito?
— Prefere andar de mãos dadas, então? Que nem a gente
fazia quando era criança?
Depois de um breve silêncio, Hilbert suspirou, segurou
a mão da irmã e disse:
— Melhor do que você ficar agarrando meu pulso.
— Beleza! Mas e aí?! Você tá pronto?! Porque eu tô
muito pronta!
— Estou, eu
acho.
— Então… A aventura vai começar!
E juntos, Hilbert e Hilda avançaram em direção à Rota
1, onde suas jornadas finalmente se iniciariam.
Já começa com morte? Adorei!
ReplyDeleteAdorei esse toque misterioso bem no início do capítulo, com a morte dessa jovem. Sei que isso ainda vai dar muito que falar, agora é só esperar para quando...
ReplyDeleteTenho que dizer, desde já, que adoro esse ambiente familiar entre Helga e os seus filhos. Hilda e Hilbert não poderiam ser mais diferentes um do outro! Adoro isso. E olha lá... eu quero saber o motivo de Hilbert não ter escolhido um Pokémon! Ele vai mesmo andar por aí sem um amiguinho? Será que ele tem medo dessas criaturas? Ou... quer libertá-las?
Adorei essa conversa de nomear os Pokémon. Eu, pessoalmente, não tenho muito esse habito, mas adorei todos os nomes escolhidos. E concordo, Snivy tem muito a personalidade de Regina George!
Também achei bastante interessante essa interação com Juniper. Todos os diálogos do capítulo seguiram de forma fluente e sem qualquer dificuldade, quase como se eu conseguisse ouvir os personagens a falar ao meu lado.
Está a ser um ótimo começo de aventura, querida Jolly! Continue e não pare!